domingo, 5 de abril de 2009

o alvo e a bola

O Seu Joaquim era o português mais ingênuo que conhecíamos – embora fosse o único. Tinha uma barbearia em frente ao campinho da molecada – uma rua de paralelepípedos. E como ninguém tinha medo do seu Joaquim – porque já tinha fama de bobo só porque era português – e, criança tem dessas coisas, vivíamos jogando a bola de propósito no vidro da barbearia. Nunca havia quebrado, só escutávamos o Seu Joaquim gritando “seus moleques duma figa”. Porém, num belo dia, a bola – não sei se estávamos mais fortes nos chutes ou o vidro já estava desgastado pelos outros tantos – quebrou o vidro. Naquele dia ninguém ficou para escutar o que o Seu Joaquim tinha a dizer e até hoje (anos depois) o autor do disparo continua foragido. A pelada ficou interrompida por um bom tempo. Um bom tempo até Seu Joaquim aparecer lá em casa – infelizmente eu era o dono da bola – e, explicando que a bola havia furado na colisão com o vidro e percebendo que não jogávamos mais, pensou “ora pois, se a bola furou, deve ser exatamente por isto que não jogam mais”, então, resolveu dar-nos uma bola novinha. A pelada voltou, aos poucos, ao normal – com um único detalhe, nunca mais acertamos o alvo.

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