sexta-feira, 16 de maio de 2008

trai num trai

Era mais ou menos 11 e 10 da noite. Mais ou menos não, exatamente 11 e 10 da noite. Saperoco chegou em casa. Sua esposa, já acostumada – mas nada satisfeita – fez que não percebeu seu teor alcoólico nem o cheiro de suor de quem parecia ter jogado uma partida de futebol. Ou feito sexo, ela poderia pensar, se ela se lembrasse se ele suava nessas situações, já que entre eles essa era uma palavra esquecida desde que ele começou a beber vertiginosamente. Ela achava que era por causa da bebida. Mas sempre teve dúvidas. Nunca teve coragem de perguntar. Ele, pra ser sincero, nem nunca desconfiou que ela estaria acordada. Ele mesmo quase não estava acordado. Foram anos assim. Nem um nem outro falava nada. Ficaram velhos, Saperoco alcoólatra ficou moribundo. Ele saía pela manhã, tomava sua dose diária, voltava, almoçava, tomava mais uma, e depois não era ninguém. Ficava vegetando no sofá da sala. Sua esposa esperava por esse momento. Depois que Saperoco nada mais podia fazer, levava pra casa sempre um homem diferente, e fazia sexo com ele na sala, dormindo. Foi assim durante três anos, até a morte de Saperoco. Depois disso, ela nunca mais fez sexo e ia diariamente ao cemitério. Sentia culpa. Achava que somente ela havia traído o marido. Morreu sem saber.

Um comentário:

Anônimo disse...

a intençao era deixar o suspense?rs

conseguiu!

aguardo ansiosamente cenas dos proximos capitulos