Estávamos lá, já próximos da saideira. Saideira que não saía nunca, já que Nico só toma saideira ímpar e Lena insiste em saidera par. Ficamos lá assistindo ninguém beber a última. Fazemos nosso papel, acompanhamos.
Mas lá estava o mesmo grupo, como sempre falando de política. Tavinho insistia com a sua questão de que a mídia era o grande problema da sociedade. Lena era das mais otimistas do grupo, para ela a cidadania popular (palavras dela) tinha força para desfazer privilégios. Ela tinha uma teoria lá que não vou lembrar aqui, nem em outro lugar, porque não lembro mesmo. Estava mais preocupado em pedir mais uma que o copo estava vazio quando ela teorizou.
Mas fez-se silêncio. Todos pareciam pensar, olhavam para o copo. Eu, já mais pra lá do que pra cá, pedi mais uma. Enquanto completava os copos semi-cheios, não sei porquê (quer dizer, porque estava bêbado), comecei a divagar.
– Essa é pra Lena e pro Tavinho, que adoram falar de mídia, que mídia isso, que mídia aquilo. Outro dia estava com uma lógica tostines na cabeça: o povo só lê esses jornais horrorosos (chamados de populares) porque são a única opção ou se tivessem outra opção continuariam lendo esses mesmos jornais? Pra você Tavinho, que gosta mais de falar mal da televisão, mudo a pergunta: o povo gosta mesmo do Faustão e do Silvio Santos, ou não vêem outra coisa por falta de opção?
– Nico, como sempre maquiavélico – e que não consegue ficar muito tempo sem falar – começou, já embaralhando as palavras pelo nível alcoólico.
– Olha só, não é à toa que eu digo que num tem esse negócio de dar várias opções pro cara escolher. Você decide o que é melhor e coloca lá na TV.
– Mas com isso você não vai conseguir nunca emancipar a população – comentou Tonico, que continuou: É preciso que se dê liberdade para a população, que ela de forma conjunta possa ter acesso aos meios de comunicação e eles, em algum momento, passarem a representar os interesses dessa maioria pobre.
– Ih, lá vem você com esse papo de intelectual orgânico de novo... – provocou Nico.
Lena e Tavinho já estavam incomodados. Não muito porque também já estavam calibrados, meio sem saco pra começar mais um assunto. Mas eram eles que provocavam. Se dependesse de mim, só falaria de futebol, que o Fluminense deu um mole danado na final da Libertadores perdendo de 4 pro LDU em Quito, que o Corinthians está desandando na segundona – já é o segundo empate, o primeiro com a Ponte e agora como Bragantino. Mas eles sempre me cortavam, queriam falar de política, de sociedade, de coisas que eu achava sérias demais pra serem tratadas num bar, num momento de lazer.
Tá certo que esse momento de lazer estava sendo exagerado. Nesse dia específico por exemplo, o tempo de lazer já extrapolava as 24 horas. Já dava umas pescadas na mesa, que bêbado e com sono fica complicado. E só mesmo estando bêbado, e preocupado com o silêncio, que fiz uma pergunta.
Não que uma pergunta seja um problema. Mas uma pergunta com esses quatro na mesa, se não for um problema, vira. Os caras gostam de complicar. Nem sei porquê acompanho esse povo.
Mas vamos voltar. Lena estava injuriada.
– A pergunta num era pra mim? Então deixa eu falar alguma coisa!
Ela começou a falar lá. Eu já impaciente com a minha pergunta, olhei pro lado e vi um outro grupo de amigos. Estavam lá Bodvéi, Clementina e Faveleiro. Entrei na roda que eles formavam. Faveleiro fala 1, Bodvéi 2, Clementina 3. Falei, vou de lona. Ganhei a purrinha e ainda levei uma dose de lambuja.
Um comentário:
sabendo quem eh quem fica bem mais fácil de entender...hehehe! muito bão!
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