quinta-feira, 24 de abril de 2008

vestibular, cachaça e pouca vergonha!

Manguaça e Pablo, ainda jovens, cheios de disposição. Tiveram uma boa idéia. Onde, não precisa dizer. Bar do Betão, no Jardim Valença. Único bar 24h de Valença e que vende mais litro de cachaça que de cerveja.

– E aí Manguaça, vamos estudar pro vestibular? To querendo fazer direito e tal, a gente podia estudar junto, um tira a dúvida do outro.

– Boa Pablo. História, Geografia e Português a gente estuda em casa. Mas seria bom estudarmos juntos Física, Matemática, Química...

Ficou marcado. Dia seguinte começariam os estudos, na lojinha embaixo da casa do Pablo. Sete da noite. Primeiro dia era Física. Pablo arrumou um livro, segundo ele dos bons. Primeiro exercício pra cá, primeiro exercício pra lá, e nada de resolverem. Manguaça:

– Estamos meio fora de ritmo, precisando de um estímulo pra dar o pontapé inicial. Vamos tomar uma cerveja. Tomam uma, Pablo fuma um cigarro. Voltam. Já pra o exercício dois, que o um estava mesmo emperrado. Dois nada. Foram tomar outra cerveja, pra dar uma iluminada nas idéias, tentar entrar no ritmo no tranco. Vão se animando nas cervejas.

– Pablo, seguinte, o problema é hoje. Hoje num tá dando pra estudar. Vamos começar amanhã. Esse calor não combina com essa Física aqui, combina muito mais com essa cerveja gelada. Vamos fazer o seguinte, a gente lê em casa e vem aqui só pra tirar as dúvidas.

– Beleza, então vamos lá tomar a saideira no Betão. Vai saideira um, dois, três... Aquela velha história, Manguaça só toma saideira ímpar e Pablo só saideira par. Aí já viu. Geralmente a saideira é quando o dinheiro acaba, que pra eles, infelizmente, não demorou muito.

– Pablo, sei que você tem um porquinho com suas economias aí, quebra ele lá. Abriu, beberam mais umas e acabou também. Tinham que dar um jeito. A vontade só aumentou. – sua mãe sempre tem um vinhozinho aí na dispensa, vamos achar aí. – Não pô, pegar da minha mãe não. – Que não o quê? Vamos lá! Acharam duas garrafas de vinho. As duas desceram rápido, igual água. Aí ferrou, a sede continuava. Mãe do Pablo uma pessoa muito religiosa, devota de São Jorge, Manguaça olha pro balcão e vê que ela deixou lá um pinga ao lado do santo, garrafa de dois litros, daquelas de coca-cola. Num deu outra. Pablo ainda foi meio reticente – Se é pro santo, melhor ainda. Santo precisa de um corpo material pro espírito absorver a bebida.

– Bebi a garrafa toda e não bebi um gole, porque não fiquei tonto, só deu mais sede. Alguém bebeu pra mim isso aí, só servi mesmo de corpo material pra algum espírito.

Sem cerveja, sem dinheiro, sem vinho, mais nada na dispensa. – sua mão deve ter umas economias aí Pablo, depois eu pago, vamos achar isso aí. – Não, não, dinheiro da minha mãe não. Sorte que não acharam, que bêbado perde o juízo. Dizem.

– Pô, mas o Léo tá me devendo uma grana. Passei uma camisa pra ele e não me pagou. – Quanto? – 10 reais. – Ô, dois garrafões de pinga no JB e ainda dá pro chiclete. Vamos lá na casa dele agora.

(Aqui um parênteses, pra entenderem onde o Léo morava. Uma vila, com um corredor e as casa do lado. As janelas dão para o corredor. Léo morava na última casa. Pra chegar lá, passam por todas as casas e todas as janelas. Nesse dia eram umas onze da noite, algumas janelas já fechadas, mas não todas).

– Qualé Léo, vim pegar meus 10 reais aí malandro. Mais de um mês e não me pagou. – Pô, Pablo, num tenho o dinheiro agora não, cara. Manguaça: então vamos revirar sua casa, tem que ter algo de valor aí. – Não, num pode entrar aqui não, minha mãe e minha irmã estão aqui, peralá! – Não rapá, dá alguma coisa aí que a gente penhora lá no Betão e depois você pega lá e paga a conta. – Cês já tão bêbados, peralá. Amanhã arrumo isso pra vocês.

Manguaça e suas idéias brilhantes. Gritou. – Então vou fazer um protesto aqui hein! Arrancou o cinto da calça. – Aí Pablo vamos ficar nu aqui! Era a última chance. Manguaça olha pro lado, Pablo já só de cueca, pegou a calça e jogou dentro da casa do Léo. A camisa jogou pro alto e agarrou num fio. Corria prum lado e pro outro gritando, todo mundo da vila olhando. Léo tentava devolver a calça. Manguaça ria e colocava pilha.

– Tira a cueca Pablo! Tirou. No que tirou Léo abaixou pra tentar levantar a cueca. Na hora que estavam numa posição comprometedora aparece Espaguete, que tem esse apelido porque um dia já foi magro, antes de entrar pra academia e se tornar conhecido na cidade pelo excesso de músculos. Pra azar deles, Espaguete morava na vila.

– Que pouca vergonha é essa aqui!!?

– Manguaça puxou Pablo e saíram correndo. Pablo de cueca e Manguaça apenas sem camisa e cinto. Deram uma caminhada de uns 3 quilômetros até a casa do Pablo. Desistiram de beber naquele dia.

*****

Dia seguinte, Pablo, cara-de-pau, liga pro Léo. – E aí, posso ir aí pegar minha calça?

Léo, meio puto, meio sem jeito, meio sem graça, fala que sim. – Mas anota o endereço aí, que estou na casa da minha avó. Galera expulsou a gente da Vila.

Um comentário:

Faber disse...

Inspirado hoje, hein!

E depois ficam achando que só o Juvenal Antena expulsa a galera da Portelinha...